Você já comeu sua maçã hoje?
Não se esqueça do equilíbrio que devemos ter! Não abuse de alimentos industrializados, prefira os naturais!!
O SAL NA DIETA
Drauzio Varella
Quanto mais sal nos alimentos, mais nos habituamos com ele. Há muito se
sabe que a ingestão de quantidades maiores pode agravar quadros de hipertensão,
mas por acaso prejudicaria a saúde daqueles com pressão normal?
Nas últimas décadas, as recomendações contra o abuso de sal têm sido
conflitantes. Alguns especialistas defendiam que as políticas públicas
destinadas a reduzir o sal da dieta deveriam atingir a população inteira,
enquanto outros consideravam mais apropriado dirigi-las exclusivamente aos que
sofrem de hipertensão arterial ou diabetes.
Confesso que a segunda posição sempre me pareceu mais razoável: por que
razão pessoas acostumadas a comer mais sal, mas que mantém níveis normais de
pressão arterial, precisariam reduzir o consumo?
Estava tão seguro desse ponto de vista, que nunca me preocupei com a
quantidade de sal nos alimentos (minha pressão sempre foi 11 por 7).
Um artigo recém-publicado no The New England Journal of Medicine,
a revista de maior circulação entre os médicos, acaba de me convencer de que eu
estava errado. Agora, acho que as políticas públicas devem ser dirigidas a
todos e que não ganho nada comendo sal à vontade; talvez até me prejudique.
Vou explicar porque mudei de posição.
O sal de cozinha é o cloreto de sódio. Cada grama dele contêm 0,4 g de sódio, íon essencial
para o organismo porque facilita a retenção de água: para cada 9 g de sal ingeridas, o
organismo retém um litro de água. Quando o sódio é consumido em excesso, o
sistema cardiovascular poderá ficar sobrecarregado caso a água não seja
eliminada com eficiência.
Para as pessoas saudáveis, a dose
máxima de sal recomendada pelo Ministério da Saúde é de 5 g por dia (2.000 mg de sódio).
Os brasileiros, no entanto, consomem em média cerca de 10 gramas , o dobro do
recomendado, sem contar o sal dos alimentos ingeridos fora de casa. Lembre que
1g de sal é a quantidade existente em cada um daqueles pacotinhos servidos nos
bares e restaurantes.
Nos Estados Unidos, os homens ingerem em média 10,4 g de sal e as mulheres 7,3 g por dia. Lá, como aqui,
hipertensão é moda. O risco de um americano que chegou aos 50 anos
desenvolvê-la nos anos que lhe faltam viver é de 90%.
No trabalho citado,
pesquisadores da Universidade da Califórnia construíram um modelo de simulação
computadorizada, para explorar o impacto que pequenas reduções do consumo de
sódio teriam na incidência de doenças cardiovasculares, na população de 35 a 84 anos de idade.
Os resultados foram assustadores. Um esforço nacional que resultasse na
redução de apenas 3 g
de sal no consumo diário, reduziria o número de infartos (de 54 a 99 mil casos por ano), de
derrames cerebrais (60 a
120 mil por ano) e de mortes por outras causas (44 a 90 mil por ano). Como
consequência o sistema de saúde do país economizaria U$ 10 a 20 bilhões, anuais.
Mesmo reduções diárias da ordem de 1 g já seriam suficientes para melhorar os
índices de mortalidade.
A diminuição do consumo traria tantos benefícios à população quanto o
combate ao tabagismo, à obesidade e a promoção do uso de medicamentos para
tratar hipertensão e os níveis elevados de colesterol.
Para combater o abuso de sal existem duas estratégias: uma individual,
outra pública. A individual é baseada na conscientização de que reduzir o
consumo faz bem à saúde; a pública tem a finalidade de convencer os fabricantes
de alimentos processados industrialmente a colocar menos sal em seus produtos.
Como cerca de 70% do sódio ingerido na dieta do brasileiro médio vem dos
alimentos industrializados, o convencimento individual tem impacto limitado.
Cabe às autoridades responsáveis estabelecer regras que limitem a quantidade de
sódio em molhos prontos, condimentos, salgadinhos, picles, conservas, pizzas,
sopas de pacote, embutidos, queijos e outros alimentos. Países como Finlândia,
Inglaterra, Japão e Portugal já o fizeram com resultados altamente positivos.
De minha parte, leitor, já comecei a diminuir o sal nas refeições e a
prestar atenção na quantidade de sódio exposta no rótulo dos alimentos
industrializados. Não custa nada, é apenas questão de acostumar com o gosto
menos salgado. Apesar de ter pressão normal, quem me garante que no futuro o
excesso de sal não me tornará hipertenso? Não vale a pena correr esse risco.
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